ESPÉCIES EXÓTICAS INVASORAS - Um problema à biodiversidade mundial


Quando uma espécie vegetal ou animal é, trazida de um lugar para outro (onde ela não ocorria naturalmente), a chamamos de espécie exótica, tendo esta potencial capacidade de competir com aquelas espécies nativas por espaço, recursos, etc. Portanto, diagnosticá-las e evitar suas introduções é uma importante medida de conservação da biodiversidade mundial, a qual tem na Educação Ambiental uma forte ferramenta para esse fim.
A introdução de espécies exóticas é a segunda maior causa da perda de biodiversidade mundial (ficando atrás apenas de destruição e alteração de habitats), entretanto pouca atenção ainda é dada a essa temática, fazendo com que mais introduções sejam realizadas a cada dia, de forma proposital ou não. Quantos de nós, por exemplo, nunca compramos uma bromélia que julgamos bonita em determinada região e a trouxemos para dentro de casa? Ou outra planta cujas flores, formatos, sabor ou propriedades medicinais nos fosse interessantes? Pois bem, quando fizemos isso estamos, provavelmente, introduzindo alguma espécie exótica em outra região.
A bromélia que trazemos pode ter, na água que acumula em suas axilas foliares, ovos ou larvas de mosquitos potencialmente causadores de doenças àquelas pessoas que outrora nunca teriam tido contato com estas, se não fosse o seu descuido. Do mesmo modo, as propriedades medicinais de uma planta podem ter função alelopática (inibidora ou deletéria) ao crescimento de outras plantas, fazendo com que sucumbam em sua presença e deixem de executar as importantes funções que até então desempenhavam naquele local, como alimento e abrigo para animais, proteção de encostas, etc.
Chamamos de espécie exótica toda espécie que foi introduzida em uma região diferente daquela de onde evoluiu naturalmente (ou seja, sem a influência antrópica). Esta pode se tornar potencialmente invasora, se seu potencial reprodutivo obtiver vantagens na nova região, fazendo com que seu tamanho populacional cresça rapidamente. Sua introdução pode ocorrer de forma acidental, como no exemplo citado anteriormente, ou intencional, para fins alimentares, madeireiros, ornamentais, etc., dos quais muitos trazem em si aspectos de caráter socioeconômico e cultural.
Algumas espécies exóticas que merecem destaque no Brasil são o búfalo (Bubalus bubalis), o javali (Sus scrofa), a lebre (Lepus europaeus), o pombo-doméstico (Columba livia), o pardal (Passer domesticus), a tartaruga tigre-d’água americana (Trachemys scripta), a rã-touro (Lithobates catesbeianus), a tilápia (Oreochromis sp.), a abelha-africana (Apis mellifera) e o mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei), dentre os animais. Em relação às plantas, destacam-se o pinheiro-americano (Pinus sp.), o eucalipto (Eucalyptus sp.), a acácia-negra (Acacia mearnsii), a uva-do-japão (Hovenia dulcis), o tojo (Ulex europaeus), o capim-anoni (Eragrostis plana) e a maria-sem-vergonha (Impatiens walleriana), todas espécies originárias de outros continentes, sendo danosas à nossa biodiversidade nacional.
Mas exposta essa situação, o que nós podemos fazer em relação a isso? Bem, a primeira questão passa pela criação de um Plano de Ação Nacional para o conhecimento e controle dessa situação, devendo-se identificar os diferentes níveis taxonômicos das espécies (reino, filo, classe, ordem, família, gênero e espécie), sua denominação popular, sua origem, suas características morfológicas e ecológicas (hábitat, potencial reprodutivo, taxa de natalidade e mortalidade, reprodução, dieta, ciclos de vida, área de vida e mecanismos de dispersão), situação atual ou potencial, distribuição geográfica e ecológica, seu histórico de introdução, possíveis usos econômicos, bem como seus principais prejuízos e benefícios nas dimensões ambientais, sociais e econômicas.
Para tanto, a Educação Ambiental focada no esclarecimento da população em relação à presença dessas espécies em solo nacional e aos impactos que provocam é fundamental. Todos devem saber reconhecê-las inicialmente, de forma que mais introduções sejam evitadas e que aqueles indivíduos, já em liberdade, tenham suas populações manejadas de modo a reduzir os danos causados por estes. Políticas públicas, adequadas, e fundos de financiamento para a erradicação dessas espécies também devem sair do papel e virar realidade no Brasil, de forma que ainda consigamos proteger nossa rica biodiversidade, atualmente insegura até mesmo dentro de Unidades de Conservação.

No lugar errado

É comum que algumas espécies naturalmente transitem de um ecossistema a outro, sem causar danos aos ambientes em que se instalam, já que isso se dá de forma lenta e eventual. Mas quando causadas pela ação do homem, esse trânsito pode causar distorções irreparáveis, alterando ou simplesmente eliminando o hábitat natural de algumas espécies. É o que acontece nos casos que veremos abaixo. Entenda, a seguir, a diferença entre eles, e como estas alterações no ambiente podem afetar o processo de perda de biodiversidade.

Exóticas e indesejáveis

Segundo a ONU, em sua Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), é caracterizada como espécie “exótica” uma variedade que ocorre fora de sua área de distribuição natural, e como espécie “exótica invasora”, aquela que ameaça um ecossistema, um hábitat ou outra espécie. As “invasoras” podem comprometer seriamente o equilíbrio dos ecossistemas que invadem, pois alteram a dinâmica das cadeias alimentares, reproduzem-se e realizam uma competição desleal com as espécies nativas.
Existem também espécies exóticas invasoras de fungos, bactérias e até mesmo vírus. Nas espécies animais, nos casos da relação predador/presa, o grande número de predadores é razoavelmente compensado pelo número também grande de presas. Já no caso das plantas, é perfeitamente possível que uma exótica invasora acabe por destruir completamente uma comunidade de espécies nativas, conduzindo-as à extinção.
No mês de março de 2006, a cidade de Curitiba sediou a Oitava Conferência sobre Diversidade Biológica (COP8). No evento, foram discutidas medidas de controle e combate das espécies invasoras. Segundo a coordenadora do Programa Global de Espécies Invasoras (Gisp) para a América do Sul, Sílvia Ziller, da organização não governamental The Nature Conservancy, algumas medidas simples ajudariam a evitar a invasão de espécies exóticas. Uma delas seria trocar a água de lastro dos navios em alto-mar e não nas regiões portuárias. Esse procedimento poderia ter evitado, por exemplo, a invasão do mexilhão dourado (Limnoperna fortunei), um molusco de água doce de origem asiática que tem causado sérios problemas econômicos e ambientais aos países da Bacia do Rio Paraná.
Outras medidas, de acordo com Ziller, incluem aplicar spray desinfetante em aviões para matar possíveis insetos, tratar a madeira usada na fabricação de caixotes, ampliar o controle nas fronteiras e, principalmente, disseminar informações sobre espécies invasoras entre os países.
Só o Brasil identificou e catalogou cerca de 400 espécies exóticas invasoras encontradas em todo o seu território e, com base nesse relatório, será elaborado um plano de controle e combate para cada espécie em particular. A meta do COP8 é criar uma legislação internacional para definir, por exemplo, de quem é a responsabilidade e quem paga a conta em casos de invasão de espécies exóticas quando a espécie sai de um país e invade outro. É necessário também que se identifiquem e monitorem as rotas de invasão das diferentes espécies e se criem mecanismos para que os países lutem contra elas.

Animais sinantrópicos - as pragas urbanas

Ao longo da História, o homem desenvolveu técnicas de criação de animais, tanto para o fornecimento de alimentos e matéria-prima (bois, carneiros, porcos, galinhas, etc.) como para servir de transporte e companhia doméstica (cavalos, mulas, cães, gatos, aves ornamentais...). Mas o desenvolvimento humano em sociedades acabou atraindo outro grupo de animais, que embora também convivam com as pessoas, são indesejáveis e podem acarretar sérios problemas de saúde pública: os chamados animais sinantrópicos, cujas características são descritas a seguir.
A associação dos animais sinantrópicos com o homem é desfavorável, pois eles transmitem zoonoses e contaminam alimentos e o meio ambiente. Os principais exemplos são ratos, baratas, formigas, moscas, mosquitos, aranhas, escorpiões, pulgas e piolhos.
O que atrai essas espécies para o convívio humano
Como sabemos, todo ser vivo necessita de três fatores para sobreviver: água, alimento e abrigo. A água pode ser encontrada com facilidade em nosso meio, mas o alimento e o abrigo realmente fazem com que esses animais indesejáveis se instalem ao nosso redor. Portanto, essas pragas são um produto do próprio homem, que adota hábitos incorretos de higiene, de armazenagem de alimentos e de limpeza de seus locais de residência e trabalho. Não devemos encará-los como seres que precisam ser exterminados a qualquer custo, mas como uma ameaça à saúde pública que pode ser evitada se forem adotadas medidas de prevenção.
Segundo especialistas do Centro de Controle de Zoonoses do município de São Paulo, com a chegada do verão, as pragas urbanas começam a proliferar, por isso, o melhor é se prevenir durante o inverno, época em que os filhotes são gerados. Limpeza e armazenamento dos alimentos são itens importantes para a definição de uma estratégia de combate a cupins, baratas, formigas, ratos, pombos, abelhas, pernilongos, moscas e até mesmo escorpiões. Desta forma, conhecer o que serve de alimento e abrigo para cada espécie que se pretende controlar é fundamental e facilita a adoção de medidas preventivas, mantendo os ambientes mais saudáveis e evitando o uso de produtos químicos, que podem eliminar espécies nativas e contaminar a água e o solo, provocando desequilíbrios ainda maiores.
Nas escolas, podem-se desenvolver projetos sobre animais sinantrópicos, analisando o comportamento desses seres e as maneiras mais eficazes de prevenção. Vale ressaltar que o trabalho deve sempre se concentrar em espécies sinantrópicas que podem transmitir doenças e causar danos à saúde da população presentes em sua cidade. É importante saber que não se trata de uma proposta de extermínio de animais, mas, sim, de Educação ambiental com caráter preventivo.
Como exemplo de análise que pode ser feita com este grupo de animais, vemos a seguir as características do pombo: seu modo de vida, sua alimentação e o tipo de abrigo que prefere.

Pombo (Columba palumbus)

Alimentação: Os pombos são atraídos por qualquer tipo de alimento, principalmente aqueles dados pelas pessoas. São espécies exóticas trazidas da Europa e não possuem inimigos naturais, reproduzindo-se em grande quantidade.
Abrigo: Fazem seus ninhos em telhados, torres, beirais de prédios, parques, etc.
Doenças: As fezes e a poeira dos ninhos podem causar:
- Ornitose: infecção pulmonar;
- Histoplasmose: infecção pulmonar;
- Criptococose: inflamação no cérebro — meninges;
- Salmonelose: infecção intestinal causada por alimentos contaminados;
- Alergias: os piolhos e as penas, além de incomodarem, podem causar sérias alergias.
Danos materiais: As fezes dos pombos são muito ácidas, por isso estragam todo tipo de material (monumentos históricos, madeiras, vigas de telhados, forros, etc.) e mancham a pintura de carros e outras superfícies metálicas. Além disso, suas penas entopem ralos e calhas.
Prevenção: Antes de limpar as fezes dos pombos, molhe com água o local e proteja o nariz e a boca com um pano ou máscara. Jamais alimente os pombos (deixe que eles encontrem a própria comida) e proteja com telas os locais onde eles possam fazer seus ninhos, fazendo-os procurar outros lugares.



Fonte: Leonardo Francisco Stahnke - Biológo

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