Ameaças à Água
Escassez
& Desperdício
Escassez - O desenvolvimento
desordenado das cidades, aliado à ocupação de áreas de mananciais e ao
crescimento populacional, provoca o esgotamento das reservas naturais de água e
obriga as populações a buscar fontes de captação cada vez mais distantes. A
escassez é resultado do consumo cada vez maior, do mau uso dos recursos
naturais, do desmatamento, da poluição, do desperdício, da falta de políticas
públicas que estimulem o uso sustentável, a participação da sociedade e a
educação ambiental.
Desperdício - Resultado da má
utilização da água e da falta de educação sanitária. O desconhecimento, a falta
de orientação e informação aos cidadãos são os principais fatores que levam ao
desperdício, que ocorre, na maioria das vezes, nos usos domésticos, ou seja, na
nossa própria casa. Existem também as perdas decorrentes da deficiência técnica
e administrativa dos serviços de abastecimento de água, provocadas, por
exemplo, por vazamentos e rompimentos de redes. Essas perdas também se devam à
falta de investimentos em programas de reutilização da água para fins
industriais e comerciais, pois a água tratada, depois de utilizada, é devolvida
aos rios sem tratamento, em forma de efluentes, esgotos e, portanto, poluída.
Estima-se que o desperdício de
água no Brasil chegue a 70%.
Onde
gastamos nossa água
Em casa - em média, 78% do
consumo de água é gasto no banheiro.
No banho: Um banho demorado
chega a gastar de 95 a 180 litros de água limpa. Banhos de no máximo cinco a
quinze minutos economizam água e energia elétrica. Abra o chuveiro, molhe-se,
feche-o, ensaboe-se e depois abra para enxaguar, ao invés de passar o tempo
todo com o chuveiro ligado.
Na escovação dos dentes: Escovar
os dentes com a torneira aberta gasta até 25 litros. Escove primeiro depois
abra a torneira apenas o necessário para encher um copo com a quantidade
adequada para o enxágue.
Na descarga: Uma válvula de vaso
sanitário no Brasil chega a consumir vinte litros de água tratada quando
acionada uma única vez. Aperte apenas o tempo necessário e não jogue lixo no
vaso.
Na torneira: Uma torneira aberta
gasta de doze a vinte litros/minuto. Pingando, 46 litros/dia.
Na lavagem de louças: Lavar as
louças, panelas e talheres com a torneira aberta o tempo todo acaba
desperdiçando até 105 litros. O certo é primeiro escovar e ensaboar e depois
enxaguar tudo de uma só vez.
Na lavagem de carros: Com a
mangueira aberta o tempo todo consome-se, em média, seiscentos litros; com
balde, aproximadamente sessenta litros.
Má utilização - Uma das
atividades que mais desperdiça água é a irrigação por canais ou por aspersão,
em decorrência de métodos ultrapassados e ineficientes. O não reuso da água
para atividades industriais também é outro exemplo que mais se relaciona ao
desperdício e à falta de políticas públicas eficientes de controle e gestão.
Desmatamento - Em áreas de mata
ciliar, que protege as margens dos rios, lagos e nascentes, provoca sérios problemas de assoreamento dos
corpos d´água, carregamento de materiais e resíduos que comprometem a qualidade
das águas. Nas áreas de nascentes e cabeceiras, o desmatamento acarreta o
progressivo desaparecimento do manancial. Sem cobertura vegetal e proteção das
raízes das árvores, as margens dos corpos d´água desbarrancam ocasionando o
transbordamento, enchentes e o desvio do curso natural das águas.
Poluição - Durante séculos o
homem utilizou os rios como receptores dos esgotos das cidades e dos efluentes
das industrias que reúnem grande volume de produtos tóxicos e metais pesados.
Essa prática resultou na morte de enormes e importantes rios - no estado de São
Paulo o maior exemplo é rio Tietê que corta o estado de leste a oeste, com
1.100 quilômetros de extensão, seguido dos rios Jundiaí, Piracicaba, Pinheiros
e outros bastante degradados e castigados pela poluição. Além da poluição
direta, por lançamento de esgotos, falta de sistemas de tratamento de efluentes
e saneamento, há a chamada poluição difusa, que ocorre com o arrasto de lixo,
resíduos e diversos tipos de materiais sólidos que são levados aos rios com a
enxurrada. Ao "lavar a atmosfera", a chuva também traz poeira e gases
aos corpos d'água.
Nas zonas rurais, os maiores
vilões da água são os agrotóxicos utilizados nas lavouras, seguidos do lixo que
é jogado nas águas e margens de rios e lagos, além das atividades pecuárias
como a suinocultura, esterqueiras e currais, construídos próximos aos corpos
d´água.
Há ainda os acidentes com
transporte de cargas de resíduos perigosos e tóxicos, rompimento de adutoras de
petróleo, óleo, de redes de esgoto e ligações clandestinas. Em algumas regiões,
as fossas negras e os lixões podem contaminar os lençóis de água subterrânea.
A crise
mundial da água e a desigualdade social
A escassez de água no mundo é
agravada em virtude da desigualdade social e da falta de manejo e usos
sustentáveis dos recursos naturais. De acordo com os números apresentados pela
ONU - Organização das Nações Unidas - fica claro que controlar o uso da água
significa deter poder.
As diferenças registradas entre
os países desenvolvidos e os em desenvolvimento chocam e evidenciam que a crise
mundial dos recursos hídricos está diretamente ligada às desigualdades sociais.
Em regiões onde a situação de falta d´água já atinge índices críticos de
disponibilidade, como nos países do Continente Africano, a média de consumo de
água por pessoa é de dezenove metros cúbicos/dia, ou de dez a quinze
litros/pessoa. Já em Nova York, há um consumo exagerado de água doce tratada e
potável, onde um cidadão chega a gastar dois mil litros/dia.
Segundo a Unicef (Fundo das
Nações Unidas para a Infância), menos da metade da população mundial tem acesso
à água potável. A irrigação corresponde a 73% do consumo de água, 21% vai para
a indústria e apenas 6% destina-se ao consumo doméstico. Um bilhão e 200
milhões de pessoas (35% da população mundial) não têm acesso a água tratada. Um
bilhão e 800 milhões de pessoas (43% da população mundial) não contam com
serviços adequados de saneamento básico. Diante desses dados, temos a triste
constatação de que dez milhões de pessoas morrem anualmente em decorrência de
doenças intestinais transmitidas pela água.
Doenças
de veiculação hídrica
Transmitidas diretamente através
da água, geralmente em regiões desprovidas de serviços de saneamento: cólera,
febre tifóide, febre paratifóide, desinteria bacilar, amebíase ou desinteria
amebiana, hepatite infecciosa, poliomielite.
Transmitidas indiretamente
através da água: esquistossomose, fluorose, malária, febre amarela, bócio,
dengue, tracoma, leptospirose, perturbações gastrointestinais de etiologia
escura, infecções dos olhos, ouvidos, gargantas e nariz.
Até o ano 2000, relatórios do
Banco Mundial apontavam que seria necessário investir US$ 800 bilhões em
tratamento e abastecimento de água para minimizar as desigualdades sociais e
enfrentar a situação de falta de saneamento básico, como uma importante
ferramenta de saúde pública.
Segundo Martin Gambril,
representante do Banco Mundial o valor econômico da água é fator fundamental na
busca do desenvolvimento sustentável. "O caso do Rio Nilo, na África, é o
exemplo mais evidente de que o valor da água não é só o econômico e sim uma
questão de sobrevivência total. O governo do Egito já declarou ao governo da
Etiópia, de onde vem mais de 80% da água do Rio Nilo, que se a Etiópia tirar
mais uma gota desse rio, isso seria interpretado como uma declaração de guerra.
É o extremo da crise e dos conflitos pelo uso da água".
A Agenda 21, elaborada durante a
Conferência Mundial das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, a Eco-92, dedicou um
capítulo especial à questão da água, onde preconiza o uso sustentável dos
recursos hídricos, orientando todas as nações para a extrema necessidade de
recuperar e garantir a qualidade das águas. Porém, passados quase dez anos, o
mundo volta a discutir o mesmo tema, pois ainda assistimos à constante
degradação dos rios, dos mananciais superficiais e subterrâneos e a padrões não
sustentáveis de consumo de água.
Para reverter esse quadro, a
Agenda 21 preconiza que é fundamental a participação efetiva de toda sociedade
na gestão dos recursos hídricos. Do II Fórum Mundial da Água, realizado em
março de 2000, em Haia, na Holanda, surge o documento denominado "Visão
21- Água para o Povo", com intuito de fazer com que até o ano de 2025
todos os povos tenham acesso às condições básicas de saneamento de
abastecimento de água.
No Brasil dos contrastes, segunda
maior potência em reserva de água doce do mundo, onde convivemos com situações
de seca semelhantes às dos países que praticamente não têm água, a questão dos
recursos hídricos e do saneamento toca profundamente nas relações de poder e de
participação da sociedade nos processos de decisão. A mais importante conclusão
é de que o acesso à água para atender às necessidades básicas é direito de
todos.
A questão fundamental para
garantir esse direito não é tecnológica, nem a falta de recursos financeiros,
mas essencialmente a falta de comunicação para que todos possam ter acesso à
informação adequada e de modo apropriado. Podemos concluir dizendo que a
questão vital da água, a erradicação da miséria em todo o mundo, principalmente
a partir do acesso às condições mínimas de higiene, saneamento e água potável.
Nota
A Sabesp calcula que o Estado de
São Paulo, perde diariamente 40% da água tratada, o que representa cerca de 1,3
bilhão de litros/dia: daria para abastecer duas cidades do porte de Curitiba.
Fonte: www.rededasaguas.org.br
Comentários
Postar um comentário