Redução de concentração de carbono
Relatório aponta que é possível descarbonizar
o mundo até 2050. Algo de concreto na
mesa de negociações sobre as mudanças climáticas: um relatório, entregue nesta
terça-feira (8 de Junho 2014) ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, mostra
pela primeira vez como 15 dos países mais poluidores, entre eles a China e os
Estados Unidos, podem se “descarbonizar”, ou seja, reduzir a concentração de
carbono de suas atividades, até 2050.
A comunidade internacional
estabeleceu como meta limitar o aquecimento a 2°C para evitar os efeitos
catastróficos das mudanças no clima, mas “muito poucos países levaram a sério o
que isto implica”, destacou o Projeto de Diretrizes de Descarbonização Profunda
(DDPP) em seu primeiro informe.
Os esforços atuais de redução dos
gases de efeito estufa, entre os quais o dióxido de carbono (CO2) respondem por
76%, são muito marginais. Para respeitar este teto de 2°C, além do qual há um
risco extremo para o futuro do bem-estar da humanidade, falta uma
“transformação profunda dos sistemas energéticos e de produção, da indústria,
da agricultura…”, insistiu o informe.
Além disso, trinta instituições e
grupos de pesquisa de Brasil, África do Sul, Austrália, Alemanha, Canadá,
China, Coreia do Sul, França, EUA, Índia, Indonésia, Japão, México, Reino Unido
e Rússia, que respondem por mais de 75% das emissões de gases de efeito estufa
do mundo, se revezaram no desafio de responder à seguinte pergunta: o que falta
fazer para em 2050 termos uma chance de estar a caminho da trajetória de 2ºC,
sem emitir mais que 1,6 tonelada de CO2, em média, por pessoa, contra 5,2
toneladas, hoje?
Esta iniciativa, do Instituto do
Desenvolvimento Sustentável (Iddri) e da Rede de Soluções do Desenvolvimento
Sustentável, criada pela ONU, com vistas a apresentar cenários ambiciosos na
mesa, esperando desta forma erguer o nível das ambições para a conferência do
clima, em Paris, que deve conduzir a um acordo de redução dos gases-estufa
envolvendo todos os países.
Jogo de
blefe
As negociações são um jogo de
blefe. Quase ninguém vê o que faltaria fazer para estar nesta trajetória,
porque dizem que os outros não fariam. Aqui, dizemos: ‘Faremos todos, sem
desculpas, explicou o encarregado do projeto, Emmanuel Guérin.
O balanço: em 2050, as emissões
de CO2 vinculadas ao consumo de energia (que não contam com o desmatamento e
outras emissões da agricultura) poderiam ser reduzidas em 45% com relação a
2010 (de 22,3 bilhões de toneladas para 12,3 bilhões de toneladas), com uma
redução de 56% por habitante.
A despeito das realidades muito
diferentes, três grandes áreas se impõem: a eficácia energética, o que
significa fazer melhor com menos energia (design dos carros, materiais de
construção, etc), gerar energia elétrica sem carbono (fontes renováveis,
nucleares, armazenamento de carbono, etc) e usar combustíveis menos poluentes
(eletricidade, biomassa, etc).
A maior parte dos ganhos estão
nos setores de produção de energia (-85% em 2050), residencial (-57%),
transporte de passageiros (-58%). Ao contrário, descarbonizar o transporte de
frete e a indústria parece mais difícil (+13% para o primeiro e apenas -14%
para a segunda). Este resultado não está completamente no curso dos 2°C, mas
“já é muito substancial”, destacou o informe.
Segundo Emmanuel Guérin, uma nova
virada de mesa vai permitir homogeneizar os cenários, na medida em que alguns
integram as tecnologias que ainda não estão operacionais, como a captura e o
armazenamento de carbono. O mesmo vale para os carros elétricos, que alguns
veem como o futuro do carro, enquanto outros ainda são reticentes.
“Vamos ver as hipóteses que todo
o mundo pôs sobre a mesa e questionar se não há algo que possamos harmonizar, o
que significa ir além para alguns”, explicou Guérin.
Ban Ki-moon será o anfitrião, em
23 de Setembro de 2014, em Nova York, de uma cúpula sobre o clima para dar um
impulso político às negociações internacionais sob a égide da ONU. O informe
definitivo do DDPP será apresentado durante 2015. O documento levará em conta o
aspecto financeiro das ações para pôr em andamento no horizonte de 2050, assim
como a questão do financiamento.
Fonte: www.ambientebrasil.com.br
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