Olhe sempre embaixo do tapete


É inegável que há uma grande dificuldade em equacionar os problemas ambientais, seus impactos e suas possíveis soluções, devido à variedade e complexidade de tantos fatores envolvidos. A própria previsão do tempo não é fácil, pois envolve fenômenos físicos não lineares e muitas vezes caóticos. Outro exemplo é a tênue estabilidade de um ecossistema.
Lembro-me da notícia que uma bela reserva ambiental, em pouco tempo, acabou se tornando uma área desértica. Isso porque foi autorizada a caça dos predadores do topo da cadeia (linces, nesse caso).
Assim, os antílopes dessa região, que tinham sua população controlada pelos linces, proliferaram muito.
Como são herbívoros, dizimaram a vegetação rasteira e as primeiras chuvas fortes lavaram o solo, retirando boa parte de seus nutrientes. Não foi preciso muito tempo para que a paisagem daquela reserva fosse devastada e os antílopes tivessem o mesmo fim que os seus predadores naturais.
Algo parecido se dá quando pensamos na crescente necessidade de produção de energia. Fala-se muito em fontes de energia limpa e na necessidade de diminuir a poluição nos grandes centros. Um exemplo bem atual refere-se aos carros híbridos que vêm abrindo caminho para os carros elétricos. Nesse caso, a pergunta é: onde e de que forma é gerada a energia que vai carregar todas essas novas baterias? Se uma parte da matriz energética de uma grande cidade depende de termoelétricas, por exemplo, só estamos mudando o problema de lugar, transferindo a poluição do ar para o interior.
Se outra parte depende de hidrelétricas, estamos alagando enormes regiões e produzindo, por exemplo, gases nocivos à atmosfera pelo apodrecimento de árvores e matéria orgânica nos lagos artificiais das represas, além de afetar irremediavelmente a fauna local. Se, ainda, a geração de energia for de origem nuclear, há o problema do lixo atômico altamente radioativo. Onde guardá-lo com segurança por tanto tempo? Além disso, que impacto o descarte de milhares e depois milhões de bateria terá sobre o lixo dos grandes centros?
Portanto, é preciso continuar procurando informações precisas sobre essas questões e, sobretudo, olhar sempre debaixo do tapete para não sermos ludibriados com falsas promessas ou notícias de pretensos avanços no sentido de resolver alguns problemas ambientais. 

Fonte: Francisco Caruso

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