Casa saudável com boas energias
Mais do que bonita, mais do que
sustentável, uma casa pode ser saudável. É o que defende um time de
profissionais que se reuniu recentemente em São Paulo durante o III Congresso
Internacional de Geobiologia e Biologia da Construção. Em foco, como o nome já
diz, está a geobiologia, área que estuda o impacto do espaço sobre a qualidade
de vida. Como se fosse uma medicina do hábitat, pronta para diagnosticar e
curar algumas patologias da construção, esse conceito faz a ponte entre a saúde
e o local habitado. De aspectos técnicos, como a distribuição da planta, a
escolha dos materiais e os princípios da boa arquitetura, a fatores menos
convencionais, como a poluição eletromagnética e a existência de fendas ou
veios d’água subterrâneos, tudo afeta o morador. Com base nisso, se você tem
dificuldade para pegar no sono, vive estressado e ou não consegue se concentrar
no escritório, é bom prestar atenção no teto que o abriga. Às vezes, o
mal-estar vem de um projeto doente.
Efeitos
na saúde
A explicação não é tão misteriosa
assim. Em 1982, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu o termo
Síndrome do Edifício Enfermo para prédios em que cerca de 20% dos ocupantes
apresentam sintomas como fadiga, dor de cabeça, tosse seca, coriza e ardor nos
olhos. Sinais que desaparecem quando as pessoas se afastam do local e dos
poluentes químicos, físicos e microbiológicos resultantes da má conservação dos
filtros do ar-condicionado, do acúmulo de substâncias tóxicas e dos ácaros
dali.
Na concepção da geobiologia, essa
definição só é um pouco mais abrangente e analisa também as energias sutis do
terreno antes de dar um veredito sobre quão saudável é uma casa ou edifício
erguido sobre ele. Há estudos científicos provando que torres de transmissão celular
provocam alterações fisiológicas. Outras pesquisas, mais empíricas, indicam que
as fissuras e os veios d’água subterrâneos causam perturbações que levam ao
estresse. Dependendo da intensidade, a saúde pode ficar bastante comprometida.
O arquiteto e urbanista recifense
Ormy Hütner Júnior que o diga. Especialista em construções sustentáveis e na
detecção de patologias de obras civis – como problemas de impermeabilização –,
ele resolveu investigar mais a fundo os efeitos das tais energias do terreno sobre
a saúde. “Na faculdade, assisti a uma palestra do Mariano Bueno, espanhol
especialista em geobiologia, e desde então tenho procurado usar esses conceitos
no meu trabalho”, conta. As construções sustentáveis buscam empregar
matérias-primas ecológicas, sem substâncias nocivas (seja na tinta, no carpete
ou na cola usada). A bioconstrução incorpora isso e agrega um diagnóstico sobre
as eventuais radiações eletromagnéticas que podem ser emitidas. “Toda radiação
afeta o metabolismo humano. É como se nossas células entrassem em ressonância
com essa alteração iônica. Isso cria um estímulo desgastante e, com o tempo,
debilita o sistema imunológico”, explica Hütner.
O radônio, por exemplo, resultado
da decomposição de átomos radioativos, sobe pelas fissuras geológicas até
chegar à superfície da terra, e há estudos que o associam ao câncer de pulmão,
acrescenta. O profissional analisou o bem estar em empresas que haviam
solicitado uma consulta em geobiologia. Após a intervenção, que reposicionou
alguns ambientes, garantiu maior ventilação e criou um projeto luminotécnico
que reduziu a sensação de cansaço gerado pelas lâmpadas fluorescentes,
constatou- se que 82% dos funcionários relataram diminuição do estresse. E
houve aumento de faturamento.
Mas como saber que uma casa está
sobre uma área geologicamente inadequada? Se você pensou em radiestesia,
acertou. As varetas de cobre são instrumentos valiosos para a visualização do
problema. “Esse metal é altamente condutor de eletricidade e responde às
alterações que passam pelo nosso corpo ao pisar no solo. Na verdade, não é a
vareta que percebe a vibração. Ela apenas reflete se o corpo está sendo afetado
ionicamente”, esclarece Hütner. A arquiteta Anna Dietzsch, de São Paulo, admite
conhecer pouco sobre a radiestesia, mas demonstra simpatia pelo conceito. “No
deserto, povos nômades como os tuaregues sobrevivem graças a esse saber
ancestral. Por meio do diapasão conseguem detectar água”, enfatiza. E continua:
“Lembro também de uma artista plástica, a Ana Teixeira, que numa performance na
Holanda refez, com a ajuda de radiestesistas, o mapa de rios que haviam sido
aterrados”. Ou seja, há um conhecimento
genuíno que os profissionais estão dispostos a considerar. Se a radiestesia
pode ser vista com bons olhos e todos concordam que a casa precisa ser mais
eficiente, só fica a questão: quando é que ela deixou de ser assim? O arquiteto
Frank Siciliano, fundador do Centro de Referência e Integração em
Sustentabilidade (Cris), de São Paulo, tem uma interessante visão a respeito.
Acho que nos perdemos com a revolução tecnológica.
Nos anos pós-60 e 70, começamos a
resolver qualquer problema com a inclusão de um ar condicionado porque a
energia era barata. Houve uma irresponsabilidade em apostar todas as fichas
nessa comodidade e a maioria das pessoas parou de pensar a casa com mais
eficiência. A banalização da arquitetura modernista é outro ponto de crítica.
Desrespeitaram se conceitos
sérios do bom uso dos grandes planos, do concreto e do vidro. Reduziram-se os
beirais que protegiam as aberturas e com isso a insolação aumentou. vidro
barateou e passou-se a fazer peles de vidro sem filtrar a luz com brises ou
cobogós, ou seja quebra sol ou elemento vazado. Mas dá para corrigir o
descaminho.
Estamos conseguindo transportar
conceitos das ecovilas rurais para o meio urbano. Princípios que eram difíceis
de aterrissar em cidades como São Paulo hoje chegam graças a uma demanda dos
moradores e ao aumento de fornecedores dos mais simples aos mais tecnológicos. Vivemos
um momento de transição em que radiestesia, feng shui e a preocupação com
resíduos e água já faz parte do importante ato que é construir uma habitação.
O especialista em geobiologia detecta a
energia do terreno por meio da radiestesia. Se não for possível evitar
construir sobre uma falha geológica, por exemplo, pode-se criar uma planta
inteligente na qual a cama, a mesa de trabalho e o fogão (áreas de maior
permanência) fiquem posicionados na zona mais neutra possível”, diz a arquiteta
carioca Aline Mendes, especialista em feng shui.
A técnica é outro recurso importante para quem
quer construir ou reformar. Os demais itens vêm da arquitetura sustentável e
visam tornar a morada eficiente e econômica:
• Invólucro que permita boa
qualidade de luz e renovação de ar. Sem uma boa solução de ventilação, a casa
vai pedir mais energia do ar-condicionado. O vidro termogênico, por exemplo,
deixa entrar luz e não calor.
• Uso de materiais ecológicos,
telhado verde, jardim comestível e painéis solares.
• Tratamento de água e esgoto.
“Esse custo fica em torno de 20 a 30% superior na fase da construção. Mas de
três a oito anos começa-se a recuperar o investimento e obter lucro.
Livre de
toxinas e cheia de vida
O arquiteto mineiro Carlos
Solano, autor da coluna Casa Natural, veiculada durante dez anos na revista
BONS FLUIDOS, foi um dos convidados do congresso sobre a biologia da
construção. Abordou as diferentes formas de trazer harmonia para o lar, sem
esquecer os conselhos de dona Francisca, a personagem que ele criou para
transmitir conhecimentos dos antigos rezadeiros. “Uma casa, antes de mais nada,
precisa de limpeza de todas as toxinas. Livre-se de objetos indesejáveis e
móveis que atravancam o caminho. Depois faça uma faxina de purificação com
flores e ervas”, diz.
“Dona Francisca lembra que o que
vale para o corpo vale para a alma da casa. Exemplo: a hortelã é digestiva. No
corpo, movimenta aquilo que estava estagnado. Na casa, então, vai limpar os
vermes emocionais e melhorar o fluxo energético. Já a calêndula, como bom
cicatrizante, ajuda a tratar as feridas e mágoas dos moradores”, ensina. Depois
que a casa é purificada, ela fica como uma tela em branco e é bom preenchê-la
com boas intenções. “Mentalize coisas positivas enquanto pulveriza os ambientes
com água de rosa e alecrim”, sugere. A receita é fácil. Em um recipiente com 1
litro de água mineral, acrescente alguns raminhos de alecrim, pétalas de duas
rosas brancas e duas gotas de óleo essencial de lavanda. Deixe o líquido tomar
sol por duas horas e só então coloque em um borrifador. Borrife pela casa, dos
fundos para a porta de entrada. É assim: a vida na casa tem de ser abençoada
também.
Fonte: www.sustentabilidades.com.br
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