O Preço do Progresso


O crescimento econômico de um país não deve ser pensado dissociado da sustentabilidade. Ouvimos diariamente que é preciso promover o desenvolvimento, a geração de renda e riquezas. Mas qual é o custo do modelo econômico que transforma tudo em mercadoria, inclusive pessoas? E quem paga a conta? Há tempos o meio ambiente dá sinais que o preço é alto demais para a natureza bancar.
Recentemente foi divulgado que o Produto Interno Bruto de Minas ultrapassou o chinês. Houve expansão de 10,9% em 2010. Números sempre impressionam e sou favorável ao desenvolvimento, mas será que a sustentabilidade tem caminhado junto? Ou o cuidado com o meio ambiente seria um empecilho ao crescimento econômico?
De acordo com especialistas, hoje já gastamos 25% a mais dos recursos que o planeta dispõe para se manter sustentável. Se todos os cidadãos adotassem um estilo de vida similar ao norte americano, seria necessário quatro planetas Terra para atender a demanda da população, ansiosa pelo desejo desenfreado de consumir.
Infelizmente, as intervenções neste sistema visando o aproveitamento sustentável das riquezas naturais nem sempre são bem-vindas. A promoção de uma economia a serviço da vida, respeitando as limitações da natureza, poderia desacelerar a economia vigente. Dessa forma, a conscientização dos cidadãos para a questão da sustentabilidade poderia destituí-los do status de consumidores. Isso representa uma transgressão grave aos valores disseminados, pois a lógica é “consumo, logo existo”.
A agricultura familiar e a economia solidária são formas de pensar a economia de um jeito diferente. Baseadas no cooperativismo, auto-gestão e no uso sustentável dos recursos, nesses modelos os valores estão fundamentos na solidariedade. A sustentabilidade é a junção equilibrada da economia, meio ambiente e bem-estar social. É necessário resgatar a sobriedade no consumo dos bens, tendo com premissa que são as coisas que estão a serviço das pessoas e não o contrário.
Se a economia continuar crescendo ignorando os sinais de exaustão da natureza, quem vai amortizar a conta pelo nosso desejo incontrolável por bens de consumo? Vamos deixar para as futuras gerações pagarem pela nossa indiferença e arrogância? O momento para repensar nossas atitudes e agir é agora. Ainda que as mudanças de paradigma civilizacional estejam na contramão do atual modelo econômico, elas são tão necessárias quanto urgentes.

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